A culpa da minha obsessão com embalagens não é da minha tendência de
acumular coisas. A culpa é da perfeição delas. Ontem, a minha mãe - que
tem uma sinusite quase mundialmente célebre e é assim The Lord of the Tissues,
porque à palavra lady falta carácter épico - deu-me um pacote de
lenços que tem um esquilo com balões estampado. O cheiro a laranja eu
ainda consigo suportar, mas que pessoas pérfidas, de mentes distorcidas,
são estas que acham que eu me devo sentir feliz por me assoar a um
desenho de um animal fofo? Porquê embonecar as coisas que são para pôr
no lixo? Serei a única pessoa a achar que este tipo de comportamento,
este destruir as coisas bonitas sem pena, tem traços de loucura?
Todas
as coisas dispensáveis, descartáveis, produzidas em massa, são tão
absolutamente perfeitas. Fui a uma fábrica de plásticos numa visita de
estudo e as embalagens, aquelas embalagens que ignoramos todos os dias,
são tão bem feitas, tão desprovidas de falhas. E as embalagens de
cereais estão tão bem impressas. E os bonecos que eles fazem para nos
vender as coisas são tão bem desenhados. Que não importa quão comum e
vulgar tudo aquilo seja, eu não consigo ultrapassar a perfeição, não quando tudo o que eu faço é tão desajeitado, não quando tanta coisa que eu compro me falha.