quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
i
But think of Adam and Eve like an imaginary number, like the square root of minus one: you can never see any concrete proof that it exists, but if you include it in your equations, you can calculate all manner of things that couldn't be imagined without it.
"Northern Lights", Philip Pullman
sábado, 15 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
terça-feira, 27 de novembro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
A Hilariante Passagem em Que Uma Personagem de Eça de Queirós Vira Uma Floribella Homicida
Rondando então em torno à árvore de espinhos, interroguei-a, sombrio e rouco: «Anda, monstro, diz! És tu uma relíquia divina com poderes sobrenaturais - ou és apenas um arbusto grotesco com um nome latino nas classificações de Lineu? Fala! Tens tu, como aquele cuja cabeça coroaste por escárnio, o dom de sarar? Vê lá... Se te levo comigo para um lindo oratório português, livrando-te do tormento da solidão e das melancolias da obscuridade, e dando-te lá os regalos de um altar, o incenso vivo das rosas, a chama louvadoura das velas, os respeito das mãos postas, todas as carícias da oração - não é para que tu, prolongando indulgentemente uma existência estorvadora, me prives da rápida da rápida herança e dos gozos a que a minha carne moça tem direito! Vê lá! Se, por teres atravessado o Evangelho, te embebeste de ideias pueris de caridade e misericórdia, e vai com tenção de curar a titi - então fica-te aí, entre essas penedias, fustigado pelo pó do deserto, recebendo o excremento das aves de rapina, enfastiado no silêncio eterno!... Mas se prometes permanecer surdo às preces da titi, comportar-te como um pobre galho seco e sem influência, e não interromperes a apetecida decomposição dos seus tecidos- então vai ter em Lisboa o macio agasalho de uma capela afofada de damascos, o calor dos beijos devotos, todas as satisfações de um ídolo, e eu hei-de cercar-te de tanta adoração que não hás-de invejar o Deus que os teus espinhos feriram... Fala, monstro!»
O monstro não falou. Mas logo senti perpassar-me na alma, aquietadoramente, com a consolante fresquidão da brisa de Estio, o pressentimento de que breve a titi ia morrer e apodrecer na sua cova. A árvore de espinho mandava, pela comunicação esparsa da Natureza, da sua seiva ao meu sangue, aquele palpite suave da morte da Sra. D. Patrocínio - como uma promessa suficiente de que, transportado para o oratório, nenhum dos seus galhos impediria que o fígado dessa hedionda senhora inchasse e se desfizesse... E isto foi, entre nós, nesse ermo, como um pacto taciturno, profundo e mortal.
Mas era esta realmente a árvore de espinhos? A rapidez da sua condescendência fazia-me suspeitar da excelência da sua divindade. Resolvi consultar o sólido, sapientíssimo Topsius.
"A Relíquia", de Eça de Queiroz
sábado, 27 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Textos colados (devidamente assinalados por tipos de letra)
Há meio mês escrevia a dizer que fazia um mês que tinha deixado de escrever o diário que mantinha, entre vários cadernos, há 11 anos. A quantidade de datas na frase anterior é como um espelho da minha boa pessoa. Escrevia a congratular-me: para além da preguiça de arranjar outro caderno, manter um diário tinha deixado de ser uma terapia, porque eu, a obcecada da nostalgia e memória, já não me conseguia lembrar das conclusões que tinha tirado na semana anterior sobre os vários factores de insatisfação na minha insatisfatória vidinha. O efeito prático era um bater com a cabeça na parede contínuo, sempre a concluir capitalmente que ia mandar passear x, y e o z também e usar a minha própria cabeça. Embora esta conclusão sobre as conclusões estivesse certa, o sentimento estava todo errado.
Sem surpresas. Praticamente tudo o que fiz nestes dois anos de hiato está tudo errado. E nem assim consigo ter a coragem atirar os atravancos às urtigas.
O problema de toda a minha análise introspectiva é que foi uma análise destrutiva. Não resta nada de mim.
Quando a minha alma começou a ser sugada pelo tumblr, eu tinha dois tumbleblogs meus: um como uma espécie de "colecção" de espécimes exemplares das minhas obsessões, outro como um caderno de recortes de coisas que me tinham surpreendido. Arrumei e fechei o tumbleblog secundário, porque os conteúdos não eram o tipo de coisa que eu costumasse publicar, e achava que a pouca diferença entre ter o tumbeblog e a minha lista de "likes" não justificava a sua existência.
Agora sinto a sua falta, tantas vezes. Que mantive a minha colecção interna de coisas que me interessavam tão segura e asséptica, e agora toda essa decoração interna me aborrece ou já a lancei janela fora.
Sem surpresas. Praticamente tudo o que fiz nestes dois anos de hiato está tudo errado. E nem assim consigo ter a coragem atirar os atravancos às urtigas.
O problema de toda a minha análise introspectiva é que foi uma análise destrutiva. Não resta nada de mim.
There are two general types of detectors: destructive and non-destructive. The destructive detectors perform continuous transformation of the column effluent (burning, evaporation or mixing with reagents) with subsequent measurement of some physical property of the resulting material (plasma, aerosol or reaction mixture). The non-destructive detectors are directly measuring some property of the column effluent (for example UV absorption) and thus affords for the further analyte recovery. (X)
Preciso de uma personalidade-manta.
Agora sinto a sua falta, tantas vezes. Que mantive a minha colecção interna de coisas que me interessavam tão segura e asséptica, e agora toda essa decoração interna me aborrece ou já a lancei janela fora.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Casas e Quartos
Reblogar, esquece-se isto depois de se tornar um hábito de preguiça*, é uma necessidade para os momentos em que outras pessoas escreveram exactamente o que me ia na alma, que são muito mais felizes do que os momentos em que consigo escrever exactamente o que me vai na alma, com todas as palavras certas e de forma escorreita.
E, já agora, porque isto parece curto, cá fica a minha sabedoria coleccionada ao longo de dois anos:
coisas a verificar quando se aluga um quarto
A grande vantagem desta casa é que ninguém me chateou, nunca. (...) Nunca ninguém me perguntou se já jantei, se já comi, se vou sair, se sair tão tarde não é mau; ninguém comentou os horários, a luz acesa durante tanto tempo, nem me aconselhou a dormir ou a comer ou a falar ou a conviver mais; nem quiseram saber que tipo de relação tenho com os meus amigos, ficando atentos na despedida, a ver onde calhavam os beijos. (X)*O tumblr fez-me muita coisa, mas não me tornou numa viciada do botão reblog. Assumo que para a maioria das pessoas seja um hábito de preguiça, reblog reblog reblog.
E, já agora, porque isto parece curto, cá fica a minha sabedoria coleccionada ao longo de dois anos:
coisas a verificar quando se aluga um quarto
- pressão do chuveiro
- situação de internet/telefone/tvcabo, facilidade da sua eventual colocação
- mobília do quarto (ter em mente que, na verdade, livrar-se da mobília excessiva é mais complicado/exige mais lata do que ir ao ikea/bricomarché/whatever arranjar mais um par de gavetas)
- distância e declives até transportes mais próximos
- distância e declives até supermercados mais próximos
- potencial para barulho do exterior (observando tipo de piso, largueza, tipo de intersecções próximas, papel no trânsito da cidade)
- facilidade de lavar e estender roupa
- mobília do quarto
- especificações do acesso à casa
- distâncias aos pontos de interesse (faculdades) em vez de, ou cumulativamente com, tempos - desconfio da passada alheia, que consegue ser sempre mais afoita que os meus pés enfiados em sapatilhas que perdem sempre os pais e amigos não neuróticos e não sobrecafeínados atrás de mim
- distância e tipo de transportes mais próximos (e distância ao tipo de transporte mais fácil de entender [METRO METRO METRO METRO. comboio, comboio. METRO.])
- situação de internet/telefone/tvcabo
- dimensões do quarto - para mim não significa absolutamente nada, excepto de que o senhorio não teve vergonha de as dizer
- aqueles tópicos do fumar/orientação sexual/idades no mais neutral possível, indicando que casa não é governada por neonazis, esquizofrénicos e pessoas com pretensões paternalistas
- colocar "alugo a menina estudante sossegada" e coisas de género é, opino, o cúmulo da inutilidade - a experiência até agora tem-me mostrado de que, tal como só as pessoas que se atrasam é que se definem como pontuais, só quem tem demasiada liberalidade de espírito é que não pensa duas vezes sobre não estar à altura do sossego doméstico, e as verdadeiras meninas universitárias sossegadas estão em negação quanto ao seu estado sossegado.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Perhaps she should have been totally silent and held her breath, hoping that the fever would run blindly throughout the house unable to find her and then crash out a window to dissipate in the snow. But she was not sure that her indiscretion would not, in the end, serve her well, for she remembered what her father had said about those who bide too much of their time and keep too much counsel. He had told her,” God is not fooled by silence.” He had told her always to have courage, and sometimes to step into the breach.
"Winter's Tale" de Mark Helprin
sábado, 21 de abril de 2012
Eu fiz uma coisa que não sei o que é
Fanvid hipster com influências de Lana del Rey não cobre totalmente a cena. O alívio de haver algo que não consigo descrever em termos de "puff, mais de tal com quê" é maior que a alegria do sincronismo acidental.
sábado, 31 de março de 2012
Literary fiction is the deep fiction, o tanas!
Fun. What is it good for? It's not pleasure, joy, delight, enjoyment or glee. It's a hollow, cruel, vicious little bastard, a word for something sought with an hilarious couple of wobbly antennae on your head and the words "I want It!" on your shirt, and it tends to leave you waking up with your face stuck to the street.
"Thud!" by Terry Pratchett
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Novidades e meia review
A SOPA e a PIPA fizeram a Wikipédia amuar (a Wikipédia é o pináculo da realização da humanidade enquanto comunidade! se a Wikipédia amua é o dever ético de cada um parar o seu bailinho!); eu não tinha site nenhum meu em que dar também uma mocada, como protesto. Suponho ter imensos sentimentos sobre isto, porque um excesso de séries me derreteu um coração que sempre foi um bocado empedernido. O que me apetece é enviar um postal ao Quino, implorando humildemente que faça uma piada com isto da SOPA. Pus "escrever uma carta ao meu autor favorito" nas 1001 coisas de um site qualquer - o Firefox lembra-se de tudo por mim, eu sou como um zombie que para aqui anda - que monitoriza as 1001 coisas em 1001 dias. Ou serão 101 coisas? Não importa, essa coisa anda a descontar-me dias desde 31 de Dezembro em que tive um sintoma de Bridget Jones, são fraquezas que nos dão quando estamos dois capítulos atrasadas na matéria de Mecânica de Fluídos, mas eu já resolvi que o relógio só começa quando eu acabar a época de exames, aí sim, depois da época de exames vou sair fabulosa por esses ares armada em maluca a fazer coisas a torto e direito...
O meu filme preferido dos últimos tempos foi o Up In The Air. É um gosto cimentado, razoável e racional; não foi que eu tivesse gostado imenso da fotografia ou... Enfim, não me tocou a sensibilidade. Vi-o aos solavancos e saltinhos num Domingo em vésperas de frequências. Gosto dele racionalmente, e muito, porque tem a mensagem mais importante* que cruzou o meu caminho nestes tais últimos tempos.
Termos pessoas de quem gostamos, termos com quem partilhar a vida e isto e aquilo, é o mais importante. E mesmo assim às vezes estamos sozinhos. Eu estou muitas vezes sozinha. As nossas epifanias são, tantas vezes quanto dita a probabilidade matemática, completamente inúteis e falham espectacularmente o seu percurso de enredo lógico.
*E daí não sei. Houve um momento no Phineas e Ferb em que a Candance está no cimo de uma torre com um gorila a dizer a seguinte coisa iluminada: "esta busca por uma perfeição inatingível e as minhas inseguranças distraíram-me daquilo que era verdadeiramente importante! - apanhar os meus irmãos". Como não tenho tempo ou paciência para tentar achar essa cena no YouTube, fiquem com isto em vez disso.
O meu filme preferido dos últimos tempos foi o Up In The Air. É um gosto cimentado, razoável e racional; não foi que eu tivesse gostado imenso da fotografia ou... Enfim, não me tocou a sensibilidade. Vi-o aos solavancos e saltinhos num Domingo em vésperas de frequências. Gosto dele racionalmente, e muito, porque tem a mensagem mais importante* que cruzou o meu caminho nestes tais últimos tempos.
Termos pessoas de quem gostamos, termos com quem partilhar a vida e isto e aquilo, é o mais importante. E mesmo assim às vezes estamos sozinhos. Eu estou muitas vezes sozinha. As nossas epifanias são, tantas vezes quanto dita a probabilidade matemática, completamente inúteis e falham espectacularmente o seu percurso de enredo lógico.
*E daí não sei. Houve um momento no Phineas e Ferb em que a Candance está no cimo de uma torre com um gorila a dizer a seguinte coisa iluminada: "esta busca por uma perfeição inatingível e as minhas inseguranças distraíram-me daquilo que era verdadeiramente importante! - apanhar os meus irmãos". Como não tenho tempo ou paciência para tentar achar essa cena no YouTube, fiquem com isto em vez disso.
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
É importante dizer, algum tempo depois da minha pequena saída avoada, que eu não perdi fé na escrita. Voltei a ganhá-la, se for preciso. Aquilo em que já não acredito, e o tempo de afastamento ainda me fez acreditar mais, é em ser lida.
Eu explicava isto tintim por tintim, mas de momento não me apetece.
O meu template é que é muito, muito giro. What a waste.
Eu explicava isto tintim por tintim, mas de momento não me apetece.
O meu template é que é muito, muito giro. What a waste.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
sábado, 7 de maio de 2011
Esta casa de espectáculos encerra. A gerente vai percorrer um caminho estreito e solitário em direcção à iluminação espiritual.
Porque eu estou farta fartinha enfastiada do exibicionismo e autismo cibernético. Vou entreter a minha obsessão com a aprovação estrangeira num sítio muito menos obnóxio para esses fins, o Tumblr, e vou ocupar-me a responder em vez de falar para o ar em outros sítios.
Quem tiver saudades minhas pode escrever-me para o meu e-mail, pode ser um "Olá" morgado, no assunto e no corpo da mensagem, não sou exigente nem pouco acessível.
Quem tiver saudades minhas pode escrever-me para o meu e-mail, pode ser um "Olá" morgado, no assunto e no corpo da mensagem, não sou exigente nem pouco acessível.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
This Has Been Fringe Week, Bitches
Totalmente subaproveitada pelo meu fantástico mau humor e desorientação, que bate recordes históricos.
Ahem, a seguir segue-se um post com elevado teor de links para o tvtropes.
Hoje deu os dois episódios finais da primeira temporada nas maratonas de férias em horário de desocupados da 2 [isto é uma instituição; talvez a devesse escrever Maratonas de Férias em Horário de Desocupados do Canal 2, com um ® ou um ©]. Não sei se é da televisão, se é ausência de neuroses shipperianas, mas FUCK YEY!, a final da primeira temporada é fantástica. The Road Not Taken deve ser o meu episódio favorito.
Aliás, do fundinho do pedacinho da minha mente que ainda consegue fabricar anticorpos mentais contra esta série, eu gostava muito mais da primeira temporada. Tinha outro tema, tinha outro ambiente - que se perdeu pelo caminho. Tinha uma estética própria (o cabelo da Agente Dunham, o cabelo da Agente Dunham), episódios que pareciam efectivamente um buraco de uma hora no nosso horário e com um caminho que não podia ser resumido, e uma maneira meia adorável de nos fazer sentir estranhos ao programa, não excessivamente familiares (que deve ser a razão que quando se dá por ela é-se uma fangirl passada dos carretos).
Havendo juízo da minha parte, posso apontar que o Fringe falhou em quase todos os Jumping The Shark que quis fazer. Havendo muito juízo, posso dizer que o Fringe foi comido pelo maldito tubarão desde o momento em que pintaram o cabelo da Anna Torv (ver identidade estética acima):
Ahem, a seguir segue-se um post com elevado teor de links para o tvtropes.
Hoje deu os dois episódios finais da primeira temporada nas maratonas de férias em horário de desocupados da 2 [isto é uma instituição; talvez a devesse escrever Maratonas de Férias em Horário de Desocupados do Canal 2, com um ® ou um ©]. Não sei se é da televisão, se é ausência de neuroses shipperianas, mas FUCK YEY!, a final da primeira temporada é fantástica. The Road Not Taken deve ser o meu episódio favorito.
Aliás, do fundinho do pedacinho da minha mente que ainda consegue fabricar anticorpos mentais contra esta série, eu gostava muito mais da primeira temporada. Tinha outro tema, tinha outro ambiente - que se perdeu pelo caminho. Tinha uma estética própria (o cabelo da Agente Dunham, o cabelo da Agente Dunham), episódios que pareciam efectivamente um buraco de uma hora no nosso horário e com um caminho que não podia ser resumido, e uma maneira meia adorável de nos fazer sentir estranhos ao programa, não excessivamente familiares (que deve ser a razão que quando se dá por ela é-se uma fangirl passada dos carretos).
Havendo juízo da minha parte, posso apontar que o Fringe falhou em quase todos os Jumping The Shark que quis fazer. Havendo muito juízo, posso dizer que o Fringe foi comido pelo maldito tubarão desde o momento em que pintaram o cabelo da Anna Torv (ver identidade estética acima):
- The Polivia thing. O acto de shipping é um buraco negro, e a energia tem que ser sugada de algum lado. Equilibrou-se bem na primeira temporada. E embora eu admita que o potencial para catástrofe apenas cresça com o tempo, neste tipo de shipping clássico, e que também não saiba como raio é que eles deviam ter conseguido contornar isto, a coisa está completamente descontrolada e comeu metade da terceira temporada. Eu não devia estar feliz, e com o tempo e alguma maturidade hei-de conseguir chegar a esse ponto.
- The "embracing the sci-fi" thing. Isto aparece em todas as "recomendações" dos media, e é mais treta que qualquer discurso recente do Sócrates. A parte da ficção científica deste programa anda a definhar à fome desde o Princípio de Exclusão de Pauli conheceu globos de neve. E na terceira temporada apenas tem servido como desculpas para fazer andar uma história a metro¹, sem a mais pequena consideração por nos estarem a enforcar a descrença. PORQUE A SÉRIO, NA PRIMEIRA TEMPORADA, UMA RAPARIGA GRÁVIDA, QUE ANDOU A CRUZAR UNIVERSOS DURANTE REFERIDA GRAVIDEZ (o que, sei lá, nas séries passadas foi posto como sendo genericamente mau para a saúde), COM UMA DOENÇA QUE PROVOCA A MORTE DURANTE O PARTO, CUJA GRAVIDEZ FOI ACELERADA COM TÉCNICAS EXPERIMENTAIS MARADAS, E QUE FOGE DAS PESSOAS QUE A ESTÃO A FAZER A REFERIDO INTERVENÇÃO MARADA, NÃO TERIA SIMPLESMENTE (muito simplesmente, diga-se, se aquilo foi uma relação de causa-efeito eu gostaria de uma intervenção daquelas para a minha futura hipotética gravidez) O PUTO E SE SENTARIA DALI A UMAS HORAS A ADMIRAR A CRIANÇA, FANTÁSTICA DA VIDINHA. [E não estou a defender que ela devia ter morrido; não, se os senhores escritores quiseram seguir com a via do bebé, que se amanhem com isso. Apenas estou a dizer que seria apenas razoável presumir que ela não estaria capaz de andar durante um mês ou dois.] Moral da história: na primeira série aconteciam coisas incríveis e pouco razoáveis, mas produziam mortes horríveis e não finais cor-de-rosa. Isto está a virar uma selva de crime sem castigo! (Matchpoint anyone?)
- The "seeing the other side as good people" thing. Era um objectivo venerável. Não era nada que nós, caros visualizadores do programa em questão, não conseguíssemos congeminar sozinhos, por quem nos tomais, ó produtores? Até os livros do Eragon falam disto (em grande detalhe, ou não conseguisse o livro ter uma razão descrição/história bastante aproximada à do Twilight). Portanto, nada contra, embora ache que se a culpa fosse claramente mais de um lado que de outro seria na verdade mais original (porque, mais uma vez, o cinzento já está mais que batido). O que acontece é que a tentativa é tão desajeitada que dói, e está a prejudicar seriamente a caracterização. Tentar humanizar a Altlivia foi tão declarado como desastrado, o que é sempre uma mistura palerma. A Altlivia, com a sua confiança e a sua boa vida, era uma personagem que entretinha e que era excelente para quebrar (eu juro que não sou sádica); traçar uma trajectória semelhante à da Olivia, enquanto a Olivia conseguia traçar a sua trajectória de volta, teria sido interessante. Quanto ao Walternate, todas as acções espontâneas dele foram típicas de um vilão, mas é suposto que uma totalmente out-of-the-blue, injustificada e incrivelmente inflexível recusa em fazer testes de drogas em crianças nos amoleça (no contexto, não faz, está bem?) . I'M NOT BUYING THIS SHIT.
- Charlie, eu não sei porque te foste e reconheço que a tua morte foi bastante inesperada (o que é bom, certo?), mas esta Fringe Division está completamente desequilibrada sem ti.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Perfeição em Massa
A culpa da minha obsessão com embalagens não é da minha tendência de
acumular coisas. A culpa é da perfeição delas. Ontem, a minha mãe - que
tem uma sinusite quase mundialmente célebre e é assim The Lord of the Tissues,
porque à palavra lady falta carácter épico - deu-me um pacote de
lenços que tem um esquilo com balões estampado. O cheiro a laranja eu
ainda consigo suportar, mas que pessoas pérfidas, de mentes distorcidas,
são estas que acham que eu me devo sentir feliz por me assoar a um
desenho de um animal fofo? Porquê embonecar as coisas que são para pôr
no lixo? Serei a única pessoa a achar que este tipo de comportamento,
este destruir as coisas bonitas sem pena, tem traços de loucura?
Todas as coisas dispensáveis, descartáveis, produzidas em massa, são tão absolutamente perfeitas. Fui a uma fábrica de plásticos numa visita de estudo e as embalagens, aquelas embalagens que ignoramos todos os dias, são tão bem feitas, tão desprovidas de falhas. E as embalagens de cereais estão tão bem impressas. E os bonecos que eles fazem para nos vender as coisas são tão bem desenhados. Que não importa quão comum e vulgar tudo aquilo seja, eu não consigo ultrapassar a perfeição, não quando tudo o que eu faço é tão desajeitado, não quando tanta coisa que eu compro me falha.
Todas as coisas dispensáveis, descartáveis, produzidas em massa, são tão absolutamente perfeitas. Fui a uma fábrica de plásticos numa visita de estudo e as embalagens, aquelas embalagens que ignoramos todos os dias, são tão bem feitas, tão desprovidas de falhas. E as embalagens de cereais estão tão bem impressas. E os bonecos que eles fazem para nos vender as coisas são tão bem desenhados. Que não importa quão comum e vulgar tudo aquilo seja, eu não consigo ultrapassar a perfeição, não quando tudo o que eu faço é tão desajeitado, não quando tanta coisa que eu compro me falha.
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ela escreve,
fundamentos da teoria rekoniana
segunda-feira, 31 de maio de 2010
O Buraco da Agulha
Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar, Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque a minha mãe o quis saber e queria que eu o soubesse, Como sabes, se com ela não pudesete falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã, Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo.
Memorial do Convento, José Saramago
sábado, 8 de maio de 2010
«Gérard de Nerval, o romântico hipersensível e alucinado que viveu, como
disse o seu amigo de sempre Théophile Gauthier, tão intensamente na
fantasia que a realização dela nada lhe traria de novo (...)»
Isto está escrito na contracapa de um volume de umas colecções de contos obscuras (Ficções) e é das coisas mais bonitas que li recentemente.
Isto está escrito na contracapa de um volume de umas colecções de contos obscuras (Ficções) e é das coisas mais bonitas que li recentemente.
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olhem olhem tenho tão bom gosto cultural
domingo, 21 de dezembro de 2008
Mais Divagações Natalícias (mas esta é a mais parva e a melhor)
Creio firmemente que, a haver no mundo forma de nos passarmos para
uma dimensão paralela, esta será num centro comercial em plena época
natalícia, com o frenesim histérico do consumismo, o ritmo das bancas de
embrulho, os piscas-piscas por todo o lado, as multidões ansiosas, os
blockbusters e adaptações de livros ao cinema, o acotevelamento geral,
os carrinhos cheios e as filas de supermercados cheias, os
engarrafamentos na área dos brinquedos, os abutres de volta dos camarões
e bacalhau, tudo isso, a criar um campo de forças místicas que nos
fizessem, pim!, num momento estávamos a admirar as pirâmides douradas de
Ferrero Rocher, no outro tínhamos discretamente desaparecido nas barbas
das câmaras de vigilância do hipermercado. E nós dávamos connosco no
meio da Terra Média.
Portanto, lá fui eu ao centro comercial hoje à tarde, que estava pela primeira vez a fervilhar de actividade de forma decente, e só me apetecia bater em toda a gente porque estou assim um bocado para o hormonalmente desequilibrada, e moral da história: nem a ponta de uma orelha élfica ou um coelho a seguir até ao País das Maravilhas. Rien.
Portanto, lá fui eu ao centro comercial hoje à tarde, que estava pela primeira vez a fervilhar de actividade de forma decente, e só me apetecia bater em toda a gente porque estou assim um bocado para o hormonalmente desequilibrada, e moral da história: nem a ponta de uma orelha élfica ou um coelho a seguir até ao País das Maravilhas. Rien.
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